Adeus Cianeto de Hidrogénio

Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com

domingo, 10 de agosto de 2008

The Great Failure


Ficam muito desapontados. Não escondem a indignação. Atiram insultos, chamam-nos fracos, dizem que é ridículo. A coisa que um fumador menos gosta, para além do anúncio de um amigo a dizer que vai deixar de fumar, é saber que um amigo ex-fumador reincidiu. Pior ainda se esse fumador lhe disser convictamente que não é uma recaída, mas antes um regresso à condição de fumador. Aconteceu. Poderia apontar mil e uma razões, mas no fundo nem eu sei bem porquê. Já cá estou outra vez, do lado dos que gastam 3 euros de dois em dois dias na causa provável da minha morte. Tenho pena. Faço planos mágicos de um dia conseguir aguentar mais do que estes cinco meses. Mas não volto a fazer promessas. Nem apostas.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Dá ganas de cristianizar pela violência

Só deve haver duas ou três canções das quais me lembro distintamente do momento em que as ouvi pela primeira vez. Eu que nunca saberia fazer uma lista destas consigo concordar com quase tudo o que diz o Tiago, mas fico sobretudo sensibilizado com o Partido Alto. Deslumbro-me sempre com a grande sorte daquele cruzamento, que felizmente nunca foi uma parceria (essa palavra irritante que os brasileiros adoram) mas sempre feroz competição, às vezes até mal intencionada. Acredito que o tremendo lo-fi desta gravação ajude, mas nunca consegui compreender o que acontece aos técnicos brasileiros, ainda hoje, na altura de gravar concertos.

8. "Partido Alto" do Chico Buarque cantado pelo Caetano Veloso no disco "Juntos E Ao Vivo": Creio que não gosto muito do Chico Buarque nem do Caetano Veloso. Não tem nada a ver com a falta de qualidades mas antes pelo contrário. Aquele paganismo selvagem sub-tropical... Dá ganas de cristianizar pela violência. Mas recordo o dia em que ouvi esta canção e, lamento os termos seguintes, se operou um reset musical no meu cérebro. Que a música feita na nossa língua em Portugal seja boa apenas por raro acidente só pode ser compreendido a partir do pressuposto que Deus nos amaldiçoou. Enquanto isso, e mesmo que chafurdando em pecados carnais, os brasileiros possuem razões de sobra para cantar com satisfação.

Vamos passar a coisas sérias

Na altura em que deixei de fumar, um reputado crítico literário sugeriu-me as Confissões de Zenão de Italo Svevo, um livro em forma de memórias escritas por um homem para o seu psiquiatra. Dentre todas as suas angústias, a de não conseguir deixar de fumar foi para si próprio a mais ilustrativa das suas frustrações e da forma como lidava com decisões. Zenão desistiu cedo de fumar, durante uma pneumonia - ainda morava com o pai - e voltou a fumar nesse mesmo dia às escondidas. Aconteceu o mesmo no dia seguinte e a partir daí haveria de marcar repetidamente datas cujo simbolismo ajudasse a fortalecer a decisão (o proletário entende isto das datas simbólicas). Assim o fez com capicuas, aniversários importantes, chegou a escolher datas sobre as quais tivesse a certeza não existir qualquer tipo de associação possível ou sequência numérica interessante. Cumpriu todas as datas que estabeleceu e falhou-as todas imediatamente depois.

Compreendo bem como funciona a mente deste homem, mas a minha experiência foi sempre muito menos literária e mais linear. Tudo demasiado gradual, estive sempre mais perto de uma brochura de centro de saúde que de uma crónica só ligeiramente interessante, mas agora, agora que experimentei outra vez o que é fumar, a consciência de Zenão começa a cumprir-se neste blogue. De uma forma diferente que não tem a sua estrutura num calendário simbólico mas na decisão quase diária de não voltar a fumar como dantes. Não é que eu esteja a fumar todos os dias, pelo contrário, mas agora acontece que fumo, quando por vezes me apetece fumar. Vivo na ilusão e tentação de fumar apenas à noite socialmente e de ser capaz de o fazer. Nunca me apetece fumar de manhã, mas sinto que, como Zenão, regresso sempre que acordo à resolução inicial cada vez mais corroída mas tão essencial como da primeira vez. Apenas um pouco mais astutamente.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Tudo isto custa muito a admitir...

... mas a verdade é que a Espanha foi a melhor equipa do Euro 2008. Portugal tinha a estrada aberta para chegar à final, mas quem leva três golos de uma Alemanha brutalmente cínica e eficaz não pode esperar outra coisa que não seja chorar. Quanto ao Mr. Scolari, parte finalmente para outras paragens(e quanto a mim felizmente, que já não o podia ouvir nem mais um minuto), mas parte com o feito inquestionável de ter sido o seleccionador que melhores resultados conseguiu em toda a história do futebol português. Apesar de a chegada aos quartos-de-final saber a pouco, a verdade é que Portugal fez boa figura. Não percebo de onde vem a legitimidade para pedir títulos e nada mais do que vitórias a um país que nunca ganhou nada em competições a sério. Um pouco mais de juizinho e paciência fariam bem melhor do que o novo-riquismo arrogante daqueles que acreditam mesmo que nós somos os maiores só porque se querem auto-convencer de que somos mesmo os maiores. O problema é essa coisa chata de os jogos só se ganharem com golos. Há-de lhes passar, tal como me passou a parvinha ideia de fumar umas duas cigarrilhas por dia durante a semana de férias que passei.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O cigarrinho mágico II

Samsum, Turquia - Ao redor da cidade de Samsum no litoral do Mar Negro, estende-se a região que produz aquele que é considerado um dos melhores tabacos do mundo, usado em algumas das misturas mais apreciadas de tabaco para cachimbo. Este é um dos tabacos cuja produção não pode ser conseguida em nenhuma outra parte do mundo, sendo que sua folhas pequenas, delicadas e de cor clara, além de seu sabor característico somente florescem nessa região.

A Turquia é o país do cigarrinho mágico, não restam dúvidas. É possível que Portugal esteja com um distante segundo lugar em mãos, mas nada pode superar esta quantidade absurda de golos no fim dos jogos. Gente que luta assim até ao fim sensibiliza-me e por vezes até se consegue resultados, mas não é por serem pequeninos que o querer muito lhes dá mais pernas que aos outros, temos que deixar de ser místicos. Ao fim de cinco jogos a jogar desta maneira já só há vontade mas torna-se um pouco mais difícil correr, e só isso já não chega. Aliás, se calhar só sem vontade nenhuma de o fazer é que se consegue ganhar aos alemães. De outro modo eles fazem questão.

Chegou a haver um momento ontem em que tive pena dos turcos, mas a vida é assim e eu acho muito bem que estejam já a ir para casa. Eu sou um tipo pouco objectivo a ver futebol e benfiquistamente optimista (muito, portanto) e quero e sei que Portugal ganhe um destes anos um campeonato. O que não me apetece mesmo nada é ganhar um título que toda a gente já tem, o que com o Euro começa a ser difícil (até a Espanha já ganhou um). O Mundial está melhorzinho neste aspecto mas mesmo nesse torneio fiquei doente com a entrada da França no clube em 98. Conclusão disto é que é habitual ver-me torcer pela equipa mais forte. Primeiro pelo que acabo de dizer. E depois porque joga normalmente melhor.

O caso dos espanhóis contra os italianos ainda foi mais comovente, mas nem em cinco horas de jogo aquela equipa marcava um golo. Pela primeira vez na minha vida irritei-me ligeiramente com o jogo de Itália. Nunca vi uma equipa (a Itália) com tantas probabilidades de esmagar outra equipa (a Espanha) que estava a jogar no limite máximo da sua competência e não querer fazer absolutamente nada nesse sentido. Tive mais pena dos espanhóis que dos turcos (ninguém gosta de ver demonstrada a sua incapacidade).

Hoje a ver vamos. Só descobri há dois jogos que a Rússia é uma boa equipa (foi contra a Suécia) portanto não vale a pena condenar já os espanhóis. Sempre ganharam um jogo há quinze dias e só mesmo a Holanda é que se transforma em gelo quando descobre que um adversário ataca melhor que eles; deslumbramento talvez. A Espanha saberá lidar um pouco melhor com isso, mas gosto muito desta Rússia, como toda a gente.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O paraíso será feito de guilty pleasures...

...como os cigarros que vou fumando.

Em tempos decidi que ia fumar quando, com 13 anos, ouvi a Susie Diamond dizer a um dos irmãos Baker que só fumava determinada marca de cigarros franceses, que não chega a dizer qual é. Mas quando puxa de um deles eu descubro que são enrolados em papel preto. Há exotismos assim, difíceis de resistir.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O cigarrinho mágico

Se eu conseguisse mandar cosmicamente nisto tudo, era capaz de fazer uma ou outra coisa exactamente igual. Por exemplo, fazer com que a probabilidade de um cigarro ser interrompido seja enorme em qualquer circunstância, o que é um facto tão comprovado como infalível. Todo o tipo de esperas, com o autocarro à cabeça serão dramaticamente encurtadas, sempre que se acende um cigarro. Da mesma forma que um filme irá para intervalo no momento em que se deita fora o primeiro fumo e se dá um jeito na almofada do sofá. Embora menos agora, puxar de um cigarro seria uma garantia de ter a refeição imediatamente servida num restaurante. A lista pode não ter fim, mas tem uma regra. O fumador não pode precipitar estes eventos por vontade própria. Fumar para que o 51 surja ao fundo da Junqueira é um exercício completamente inútil.

Mesmo sabendo disto, alguns cretinos, nos quais este que vos escreve está muitíssimo incluído, optam por aplicar esta regra a outras vertentes da vida, nomeadamente a jogos de futebol importantes, e baptizam o momento como o Cigarrinho Mágico, o tal que quando fumado, normalmente após o minuto 80, provoca golos a nosso favor. Este expediente tem mais ou menos a mesma função que o interruptor que fecha as portas dos elevadores, isto é, não serve para rigorosamente nada cria no utilizador uma sensação de conforto potenciada pela ideia de controlo da situação. Mas a verdade é que as portas acabam por se fechar mesmo, após pressionar freneticamente o botão, e também é verdade que há golos que entram mesmo com um cigarro aceso, como o segundo de Portugal ontem.

Marcado o 3-2, o momento ainda foi mais divertido. Fumadores e não fumadores precipitam-se sobre os dois únicos maços da mesa e acendem um cigarro mágico (oito cigarros mágicos) cheios de esperança. Fumadores ou nao, no fundo todos estamos à procura de uma boa desculpa para acender um cigarrinhho.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Can't look, can't touch



Este está a ser o pior europeu de todos os tempos. Acredito que haja para aí gente muito divertida com isto tudo mas para mim, que sou o único que interessa em termos de eu apreciar o Europeu, está a ser uma boa merda. Eu sou dos raros portugueses que tem umas dez televisões no local de trabalho, sendo que pelo menos umas nove estão sintonizadas na Sportv 1 e 2 e na TVI. Os jogos passam ali, a 10 metros da minha vista, mas eu tenho a dizer que, tirando o jogo inaugural de Portugal, ainda não consegui ver mais do que dez minutos de cada partida. É verdade que parto de um ponto de comparação inigualável - em 2004 vi todos os jogos de Portugal nos estádios e ainda umas coisas fantásticas como um França-Inglaterra, Alemanha - República Checa ou um Croácia-França - mas nunca na vida vi tão pouco de um europeu. Dizem-me que a Holanda joga muito, que o espanhóis andam (como sempre) a julgar que são os maiores e que a Croácia e a Rússia arriscam-se a surpreender toda a gente. Custa-me a acreditar no que as pessoas dizem, mas é a única coisa que posso fazer, além de ver os golos nas repetições - a invariável forma como eu os vejo pela primeira vez. A única parte boa disto é que me informam de que perdi uma exibição miserável de Portugal contra a Suíça. Menos mal. Daqui a nada, tentarei conseguir ver pelo menos meia hora do embate contra os germânicos. Nem que seja por superstição. Esta sexta entro de férias e fico livre para ver todos os jogos até à final sem que me interrompam. Agora não me lixem, senão ainda acabo o mês a fumar cigarros...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Olá, o meu nome é Lucky Luke...

Não é nenhuma cedência ao politicamente correcto ter cuidado com o James Bond de Ian Fleming. Não é este último 007 aquele que mais se aproxima do estilo dos livros, mesmo que o toque de espionagem e noir esteja um pouco mais presente, mas sim o primeiro, o Dr.No na Jamaica de 1962, ainda pouco mais que uma colónia onde Fleming passava o fim-de-ano e por lá ficava até ao fim de Abril, todos os anos, produzindo em cada um mais uma aventura Bond (vidão).

Esse 007 que viria a envergonhar Sean Connery pode ser divertido pela sua ingenuidade, mas ninguém passa sem estranheza ao almirante inglês que entrega os seus sapatos ao motorista, exige do seu guia que ande uns metros atrás de si e que vai ainda um passo mais longe no seu desprezo geral por mulheres. Alguém terá reparado que os tempos mudam, e logo no ano seguinte o 007 está muito mais adequado ao seu tempo e fica só a divertida ingenuidade.

Ainda ficariam por muitos anos os cigarros. Entre o James Bond de Fleming* e o Pierce Brosnan que rosna 'filthy habit' a um tipo que acabou de matar e que que estava a mandar umas passas, havia um óptimo fumador em 007, o gajo que fumava cigarros como nós e que lentamente deixou o vício para trás.

*Ouvi de boca uma vez que o Andy Warhol poderá ter dito que um rico não pode comprar uma coca-cola melhor e essa seria a sua grande arma. Poder-se-ia pensar que um rico também não consegue comprar um cigarro melhor. Ian Fleming não só o faz fumar 60 cigarros por dia, como os fuma exclusivos: One of James Bond's greatest pleasures is cigarettes and he usually smokes sixty per day of a special Balkan and Turkish mixture with three gold bands on the filter. The cigarettes are specially made for him by Morland's and carried in a wide, thin cigarette case of black gunmetal with room for fifty.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Competição

Não é de agora que tenho inveja dos italianos a ver futebol. Vi no meio de umas dezenas deles a final do Mundial, mas melhor deve ser vê-los perder. Não é que o deseje, mas acaba de sair de perto de mim um amigo italiano que disse apenas "tenho que ir ver a merda da Itália". Quando lhe pergunto se tem mesmo, ele diz que sim e que os odeia por isso. Há aqui quase um certo benfiquismo, mas melhor ainda. A juntar a isto sabe de cor todos os resultados que permitem passar o grupo (a melhor é um empate a zero no caso de vitória da Holanda por mais de três, caso em que a Itália batia o seu recorde de 82 e seria apurada com dois pontos), e pratica todo o tipo de equilíbrios cósmicos. A namorada foi hoje assaltada no metro e isso deixou-o contentíssimo, porque calcula que a sorte virá mais logo. Pratica, como todos os italianos, a scaramanzia, que só por distracção pode ser confundida com superstição. Scaramanzia é evitar trazer o azar sobre nós. Superstição é querer atrair a sorte, exercício inútil para esta gente. Frases como 'vamos ganhar isto' estão completamente fora de questão.

Era absolutamente impossível deixar de fumar e ser italiano. Há demasiado em jogo de dois em dois anos.

boys will be boys

A couple of years ago, I happened to be giving a talk to the graduating seniors at a Catholic girls' school. During the question period, one young woman asked, "If you could be any character in literature, who would you choose?" Given that I write about books for a (hardscrabble) living, I could see that she expected me to name some obvious literary heavyweight, such as Odysseus, Prince Genji, or Huckleberry Finn — all of whom flashed through my mind as good answers. Instead...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Futurologia, a nova sére da HBO

Diria até segunda temporada. Agora que estão apresentados os personagens e que já lhes caiu a máscara da invencibilidade , depois de ter fumado um cigarro no último episódio, agora que o público já tinha entrado em modo telenovela, eis que se fraqueja, eis que há sangue, desilusão e recomeço. E drama, claro. Também há sms solidários (um, vá) indicando um jogo de juniores entre Sporting e Porto para este Sábado que passou. Custava cinco euros. Emails não há, nem sequer pancadinhas nas costas de monta. Estou também muito constipado, não sei bem o que se passa. Consigo listar todos os dias boas razões para voltar a fumar, mesmo a ver jogos entre a Alemanha e a Áustria.

Estou a gostar muito deste Europeu e gostava muito de ver a Itália a passar o grupo. A Holanda começa a irritar-me, não sei o que se passa. Havendo muito mérito em fazer o que se tem que fazer, como têm feito, também não vejo que acontecimento espectacular é esse de ganhar à Itália numa fase de grupos, ou à França neste estado em que se veio apresentar à competição. Uma boa estratégia por parte do Van Basten amanhã poderia ser começar por marcar dois auto-golos (não está ainda provado que a Roménia consiga marcar golos por si) e garantir que não há nenhuma hipótese de jogar contra a Itália antes de 2010. De outra forma penso que haverá chatices nas meias-finais. Caso opte pelo meu conselho, poderia acontecer esse facto engraçado de Portugal e Holanda se encontrarem na Final. Não alinho no discurso fácil de que temos tradição de ganhar, nem é por aí que quero ir. O problema é que a gente não se dá. Rancor, com certeza, mas imagino uma final que poderia fazer as delícias daquela malta do youtube que pesquisa por '30 most evil tackles of all time' e termos do género. No geral penso que não terei problemas até à final, pelo menos relacionados com futebol.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Já agora...

A aposta está ganha pelo Proletário, podem dar-lhe os parabéns. Eu não dou de certeza, que já basta ter de pagá-la. Este prémio foi um tema que discutimos durante meses e entre fins-de-semana e jantares em restaurantes à escolha do vencedor, resolvemos optar por qualquer coisa um pouco mais heterossexual e também mais difícil de explicar. O vencido teria que comprar os dois bilhetes mais caros do primeiro jogo após o cigarro em casa do clube do vencedor e assistir ao jogo. O infeliz é do Sporting e eu do Benfica, e rapidamente alinhámos estratégias para, se necessário, fumar antes de um jogo para a taça da Liga e despachar o raio da aposta. Eu fumei um cigarro depois do campeonato terminado e ainda não sei bem o que me espera. Sei que em Agosto o Sporting se apresenta aos sócios num jogo com o PSV (quem é que faz um jogo de apresentação com o PSV?) e é possível que seja esse o bilhete que terei de comprar. Se alguém souber de um jogo treino, ainda que contra a equipa B, desde que seja em Alvalade e com bilhetes pagos, terá em mim um amigo dedicado assim que me disponibilizar essa informação. Como se não bastasse, a última vez que vi um jogo completo do PSV foi em 1988.

fim?

Uma destas noites mais longas de sábado cedi a fumar um cigarro, um Marlboro vermelho, na companhia de amigos e enquanto conversava com eles entre imperiais numa esplanada. Se excluir quem me deu o cigarro (uma boa pessoa, gostava que acreditassem), apenas uma outra reparou que quatro meses depois eu voltava a fumar e mesmo assim já estava quase no filtro. Os restantes continuaram descontraídos como quem não repara num corte de cabelo. Perdi a aposta, claro, cujo objecto eram apenas cigarros, mas se juntarmos a este a cigarrilha de há uns tempos e o prometido charuto num casamento deste sábado que passou, o sucesso do adeus ao cianeto parece comprometido. Foram só quatro meses, que são uma gota de água em doze anos de tabaco. O sabor do cigarro, esse, foi realmente diferente de tudo o que me lembrava, e não foi mau. Foi um sossego finalmente atingido e ao mesmo tempo um sabor muito ansioso, demasiado adolescente até. Estar um cigarro inteiro a pensar na asneira de estar a fumá-lo é um péssimo cigarro. Por outro lado, ainda que não me tenha apetecido fumar na manhã seguinte, apeteceu-me bastante na noite seguinte e na outra (não fumei). E poucos dias depois estava agarrado a um charuto. Estou outra vez na condição de ex-fumador, mas agora sei que é muito mais fácil do que eu pensava voltar a fumar como dantes. Aproveitando o momento futebolístico que finalmente chegou, posso dizer que sou um desistente mais humilde. Continuo a achar que é fácil deixar de fumar e fácil não o fazer nunca mais. Mas também é demasiado fácil voltar a fumar. Um mundo de facilidades, portanto. É só escolhê-la.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Regressos

Não é que o episódio do Sócrates no avião nos tivesse desencorajado de continuar na abstinência, mas ficámos um pouco envergonhados por partilhar o projecto, ainda que apontado para um confortável futuro incerto, de deixar de fumar com o primeiro-ministro. É altura agora de seguir em frente, deixar para trás este triste episódio que sozinho não poderá manchar a gloriosa caminhada dos ex-fumadores sérios e compreender que da mesma maneira que há bons e maus jornalistas, bons e maus professores, bons e maus auxiliares da acção médica, bons e maus serigrafistas, existem também bons e maus ex-fumadores. Nenhuma classe está livre.

Foi sem pensar nisso que descobri por acidente que hoje é dia 3 de Junho, e portanto quatro meses que etc. etc. Quatro meses depois de se deixar de fumar, já todas as estatísticas gostam de nos empurrar para um local agradável onde a respiração voltou ao normal e praticamente todos os sintomas de quem fuma em excesso, desapareceram. Claro que dei por mim a querer testar isso imediatamente tentando por duas vezes, uma num jogo de futebol e outra num jogo de vólei na praia, as duas unicas modalidades que alguma vez pratiquei na vida.

O jogo de futebol correu como se esperava. As minhas articulações sofreram muito e ainda agora passadas duas semanas, sinto nas cartilagens o erro que cometi. Marquei dois bons golos, um dos quais me exigiu um sprint de dois metros que me obrigou a sair de campo a arfar sem fôlego (e a querer fumar um cigarro). Para concluir ficámos a saber que eu marco bons golos frequentemente, e que mesmo sem tabaco cá dentro há quatro meses o fôlego é escasso e trai-nos à primeira oportunidade.

O jogo de vólei foi diferente. Não estou debaixo de uma rede desde os 20 anos de idade, altura em que tinha menos 20 quilos ou mais, o que permite - descobri ontem - saltar a niveís completamente diferentes (o suficiente para agora ser impossível rematar, por exemplo). Descobri também que que é possível ficar cansado após um ou dois sets e ainda que não sei jogar este desporto, com dúvidas muito sólidas sobre se não é uma memória inventada alguma vez ter tocado numa bola de vólei.

A Figueira da Foz é uma terra de básquete e nunca tratou bem pessoas que, como eu, nasceram para mudar o voleibol nacional, mas ainda assim, entre a praia e os torneios da escola, lá fui descobrindo que a minha vida era aquilo. Estamos a falar de um sítio (a praia da Plataforma) em que era possível ver oito putos com o cabelo espetado para o lado à Andrea Lucchetta, graças a quem acompanhávamos da mesma forma os jogos da equipa de futebol e de vólei do Milan. Seria de esperar que um discurso destes acompanhasse um grande jogador de vólei, mesmo que agora com 32 anos, mas o dia de ontem veio provar que o tempo é cruel com as nossas pequenas habilidades, e nem vale a pena alongar-me sobre o que se passou naquela praia.

Mas posso ainda refugiar-me no terreno de jogo, um último recurso com que me brindaram. Actualmente as pessoas levam a sua própria rede para a praia, o que não sendo descabido, tem a chatice suprema de ter que se montar mastros e rede na areia, tarefa para uma meia-hora bem passada. A grande vantagem deste processo é poder escolher com precisão o local onde queremos jogar e foi o que fizémos. Naquelas várias centenas de metros quadrados, optámos por fazer o campo no local onde esteve anteriormente um bar, agora demolido. Debaixo do fino areal de Santo Amaro encontrava-se um mar de entulho pontiagudo e contundente, constituído sobretudo por pedras e bocados de cimento (alguns dos quais tiveram que ser carregados do campo por duas pessoas), pregos, cavilhas (nº27, creio), e pequenas placas metálicas triangulares com um 'reservado' gravado. Como é evidente refreámos os mergulhos, que é uma das únicas razões que leva pessoas a jogar vólei, e ainda assim regressámos com a carne marcada como cristos. E perdemos todos os jogos, os meus dedos não obedecem, já não sei o que é uma manchete, nunca mais rematarei na vida e sou completamente inútil no bloco. Com a desculpa do tabaco excluída, resta-me pouco para explicar isto. Quinta-feira volto lá.