Quando a lei do tabaco entrou em vigor, já a minha decisão de deixar de fumar estava tomada, com dia marcado e tudo e já uns bons meses antes disso. Acho que tenho o hábito de repetir isto para que ninguém fique com a sensação de que o legislador me vergou. Os meus adolescentes instintos da pequena rebeldia indignaram-se com o timing da minha decisão que, ao olho mais desprevenido, pode transmitir uma ideia de obrigação e desistência, e de que fui o primeiro a ceder. Enfim, um homem tem os seus orgulhozinhos pessoais, e gosta de tornar público que os defende.
Mas a questão por que escrevo isto é outra. Apesar de saber que cerca de um mês depois da entrada em vigor da lei eu iria deixar de fumar, pus-me ainda assim a fazer contas do quanto esta nova lei me iria estragar a vida. Deixar de estar muito tempo em restaurantes, coisa que até aprecio ou o gosto de um whisky no fim do jantar com os amigos e a conversa longa habitual quando se dispõe de horas para tanto. Não me ocorreu nunca foi que todos os cigarros me estariam vedados, públicos ou privados. Eu fui dos que se indignou (um bocadinho, que na verdade estas coisas pouco me aborrecem) com as consequências da lei. Eu, o tipo que já tinha promulgado uma lei muito mais feroz e abrangente para si próprio, meses antes (lamento se insisto com isto, mas a sério que foi mesmo uns meses antes).
Demorei uns dias a aperceber-me de uma outra consequência da lei (a do governo). Ver um jogo de futebol, num restaurante ia ser agora para mim completamente impossível. O jogo mais simples, menos competitivo e de consequências mais nulas que se possa imaginar, consistia sempre numa contagem de pelo menos seis cigarros. Aqui a minha revolta atingiu outros contornos. Nem toda a gente pode ir para casa ver o jogo na SportTv. Uma pessoa precisa mesmo da televisão do café.
Foi preciso chegar ao dia 3 de Fevereiro para me lembrar que a partir de agora nem a ver o jogo dos miúdos aqui na rua, à janela de casa, eu posso fumar. Considerei deixar de ver futebol. São cigarros saborosos os da bola. O cigarro do jogo a começar, o cigarro da bola falhada, o cigarro que vem do aproveitamento de um momento parado do jogo, o cigarro preocupado porque isto parece que vai correr mal hoje, o cigarrinho mágico que, como aqueles que fazem aparecer autocarros nas paragens, há-de trazer um golo, e claro, o cigarro do golo e de uma vida descansada. Não imaginam o prazer destes cigarros.
Hoje fui ao estádio ver um jogo para a Taça de Portugal do Benfica com o Paços de Ferreira. Safei-me com grande à vontade das ansiedades titânicas que previ. Neste momento parece-me que todos os estímulos que me distraem me fazem esquecer os cigarros. Não há modo de acertar nesta coisa dos momentos difíceis. Jantar, café, ver a bola; tudo demasiado fácil (sério). Os meus problemas andam muito mais pela gilette e pela escrita. Descobri que fico com uma vontade incontrolável de fumar quando me meto a escever um post. Em condições normais este ter-me-ia levado três a quatro cigarros do maço.
Mas a questão por que escrevo isto é outra. Apesar de saber que cerca de um mês depois da entrada em vigor da lei eu iria deixar de fumar, pus-me ainda assim a fazer contas do quanto esta nova lei me iria estragar a vida. Deixar de estar muito tempo em restaurantes, coisa que até aprecio ou o gosto de um whisky no fim do jantar com os amigos e a conversa longa habitual quando se dispõe de horas para tanto. Não me ocorreu nunca foi que todos os cigarros me estariam vedados, públicos ou privados. Eu fui dos que se indignou (um bocadinho, que na verdade estas coisas pouco me aborrecem) com as consequências da lei. Eu, o tipo que já tinha promulgado uma lei muito mais feroz e abrangente para si próprio, meses antes (lamento se insisto com isto, mas a sério que foi mesmo uns meses antes).
Demorei uns dias a aperceber-me de uma outra consequência da lei (a do governo). Ver um jogo de futebol, num restaurante ia ser agora para mim completamente impossível. O jogo mais simples, menos competitivo e de consequências mais nulas que se possa imaginar, consistia sempre numa contagem de pelo menos seis cigarros. Aqui a minha revolta atingiu outros contornos. Nem toda a gente pode ir para casa ver o jogo na SportTv. Uma pessoa precisa mesmo da televisão do café.
Foi preciso chegar ao dia 3 de Fevereiro para me lembrar que a partir de agora nem a ver o jogo dos miúdos aqui na rua, à janela de casa, eu posso fumar. Considerei deixar de ver futebol. São cigarros saborosos os da bola. O cigarro do jogo a começar, o cigarro da bola falhada, o cigarro que vem do aproveitamento de um momento parado do jogo, o cigarro preocupado porque isto parece que vai correr mal hoje, o cigarrinho mágico que, como aqueles que fazem aparecer autocarros nas paragens, há-de trazer um golo, e claro, o cigarro do golo e de uma vida descansada. Não imaginam o prazer destes cigarros.
Hoje fui ao estádio ver um jogo para a Taça de Portugal do Benfica com o Paços de Ferreira. Safei-me com grande à vontade das ansiedades titânicas que previ. Neste momento parece-me que todos os estímulos que me distraem me fazem esquecer os cigarros. Não há modo de acertar nesta coisa dos momentos difíceis. Jantar, café, ver a bola; tudo demasiado fácil (sério). Os meus problemas andam muito mais pela gilette e pela escrita. Descobri que fico com uma vontade incontrolável de fumar quando me meto a escever um post. Em condições normais este ter-me-ia levado três a quatro cigarros do maço.