Um amigo que recentemente tentou deixar de fumar pela quarta vez contou-me que desta última não celebrou o último cigarro, como se faz sempre que se parte em direcção à virtude. Até aí eu desconhecia em absoluto esta prática, e durante os últimos dias de fumo dei por mim a idealizar o cigarro final. Não aconselho que o façam a não ser que tenham condições para isso e um ambiente absolutamente controlado. Eu, por exemplo, não o tinha e não me esquecerei do último cigarro.
Nessa noite nunca cheguei a fumar dois em simultâneo mas exagerei bastante: dois maços em cerca de dez horas. Não me lembro de muitos deles, mas como já tinha fisgada esta coisa de celebrar o último, comecei a exagerar também na contagem. Último depois da refeição, último com um whisky, último de dia. O último cigarro enquanto fazia barulho com o baixo foi curiosamente com o proletário e nessa tarde; nós que não fazíamos barulho amplificado juntos há anos.
À porta de casa preparo-me para o último cigarro - o último que sobrou - e que nos vimos obrigados a partilhar entre os dois, o que até nem me pareceu mal. Antes de o acender, aparecem três dos convivas que estiveram connosco. Não sei o que moveu esta gente mas aparentemente a nossa posição frágil despertou ali os mais terríveis sentimentos de, vá, joco. Entre se recusarem a dar-me mais um cigarro e insistentemente tentarem fumar também daquele que combinámos ser o último, iam-se passando os difíceis bafos finais. Tudo isto condimentado com prognósticos de que nenhum de nós passaria do dia seguinte.
Sou uma pessoa fraca a todos os níveis, cedo a vícios com facilidade e lido mal com privações. Mas se houve coisa que me deu resistências naqueles difíceis dois ou três dias, foi o despeito. Não é bonito, aceito, mas cada um terá a sua estratégia. E a minha talvez não pudesse passar simplesmente pelo auto-controle. É impossível esquecer-me do último cigarro mas a verdade é que foi providencial para o sucesso do empreendimento. Até ver...
Dez dias.
Nessa noite nunca cheguei a fumar dois em simultâneo mas exagerei bastante: dois maços em cerca de dez horas. Não me lembro de muitos deles, mas como já tinha fisgada esta coisa de celebrar o último, comecei a exagerar também na contagem. Último depois da refeição, último com um whisky, último de dia. O último cigarro enquanto fazia barulho com o baixo foi curiosamente com o proletário e nessa tarde; nós que não fazíamos barulho amplificado juntos há anos.
À porta de casa preparo-me para o último cigarro - o último que sobrou - e que nos vimos obrigados a partilhar entre os dois, o que até nem me pareceu mal. Antes de o acender, aparecem três dos convivas que estiveram connosco. Não sei o que moveu esta gente mas aparentemente a nossa posição frágil despertou ali os mais terríveis sentimentos de, vá, joco. Entre se recusarem a dar-me mais um cigarro e insistentemente tentarem fumar também daquele que combinámos ser o último, iam-se passando os difíceis bafos finais. Tudo isto condimentado com prognósticos de que nenhum de nós passaria do dia seguinte.
Sou uma pessoa fraca a todos os níveis, cedo a vícios com facilidade e lido mal com privações. Mas se houve coisa que me deu resistências naqueles difíceis dois ou três dias, foi o despeito. Não é bonito, aceito, mas cada um terá a sua estratégia. E a minha talvez não pudesse passar simplesmente pelo auto-controle. É impossível esquecer-me do último cigarro mas a verdade é que foi providencial para o sucesso do empreendimento. Até ver...
Dez dias.