Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Pure Science


A história tem barbas moisebianas para quem me atura, mas aos incautos navegadores erróneos que aqui atracam o bote ainda me atrevo a contá-la de novo.
A maioria dos fumadores começaram a praticar esse mister no início da adolescência, quando o cérebro ainda não se tinha apercebido de todo o T0 disponível na caixa craniana. Eram demasiado putos para se aperceberem da dimensão da parvoíce que estavam a cometer. Eu nunca tive essa desculpa.
No ano da graça do senhor de 1996, desembarquei em Lisboa sem vícios. E ali decidi, e decidi mesmo, aos 18 anos, pleno de convicção, que ia começar a fumar. A medicina dizia-me na altura que o álcool não ajudaria em nada à boa temperança, pelo que decidi que o tabaco seria o meu vício. E fiz a fatídica promessa que há sete dias carrego às costas - aos 30 deixas de fumar. Quis a fortuna que o camarada Sérgio se juntasse a este devir, e confesso que, se não fosse esta obrigação para com ele, duvido se estaria já no sétimo dia.
Mas regressemos ao ano de 1996. Decidi fumar. E isto não foi coisa feita de ânimo leve, foi preciso escolher uma marca. Decidi corrê-las todas, fazer dessa demanda um concurso para regozijo interno. Acho que comecei pelos SG's e rapidamente percebi que não era ali o meu futuro. Ventil e Gigante é para quem cava batatas e bebe minis às oito da manhã. Ventil era demasiado curto e o resto era toda uma variação de cores esquisitas e frouxas. Rothmans - too strong. O Dunhill tinha, e tem, fama de tabaco fino e caro, mas sempre o achei demasiado forte, torna-se enjoativo. Lucky Strike, andei por aí, até porque fumar um golpe de sorte nunca pode dar azar, mas também bloqueei. Camel era giro, e tinha o encanto dos rallys em terras inóspitas, mas também sempre o achei demasiado armado ao pingarelho, a querer impor-me o seu gosto. Escolhi, finalmente, três marcas: John Player Special - porque tinha o maço mais bonito, porque me lembrava a F1 dos tempos áureos, porque tinha realmente a receita mais equilibrada entre sabor e nicotina; Português Suave (no tempo em que se podia chamar suave) porque era não só barato e honesto mas também disponível em qualquer lado e, finalmente, Marlboro, porque é o cigarro universal, a quem nenhum fumador consegue dizer não.
Mas o que guardo desses tempos, meus caros, o que guardo desses tempos, são os dois maços de Gauloises que fumei sofridamente. Acreditava eu, vejam lá no que eu acreditava, que essa coisa cilíndrica era uma espécie de cartão de identidade do esquerdista, coisa que eu queria parecer ser. Não é, meus caros, não é. Aquilo é só agressão em forma de tabaco. O meu curso de 12 anos está concluído. Assim o espero.