Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com

sexta-feira, 7 de março de 2008

Estilismo

É verdade que se ninguém fumasse n'O Padrinho o filme perdia em estilo e que um cowboy com uma ponta de cigarro a queimar os lábios intimida mais. O Alex James, baixista dos Blur, fuma vários cigarros ao longo de um concerto e dá ideia que não lhes toca em nenhum momento. Ser blasé é aquilo, apoiado com uma perna no monitor, cigarro pendurado, olhos nas miudas da frente e o baixo a tocar - hei-de provar isto - sozinho. Os velhotes que de bicicleta preta passavam na minha rua tinham sempre um cigarro minúsculo nos lábios. O fim de um cigarro enrolado, sem filtro.

Os cigarros não atrapalham este tipo de gente, mas a minha história com cigarros soube ser sempre uma sucessão de trapalhadas. Não é fácil fazer figura de parvo com um cigarro, mas eu conseguia amiúde tratar disso, em mais do que uma modalidade. Nunca percebi por exemplo o que me levava a crer que enquanto dava uma tacada numa mesa de bilhar podia continuar de cigarro na boca, para confirmar de todas as vezes, que o fumo entra mesmo nos olhos e que a reacção é violenta. Mais cretino que isto só a minha tendência para passar o dedo nos olhos depois de cortar duas ou três malaguetas (esta experiência merecia um tratamento muito mas vasto). É provável que eu esteja a ser lido por pessoas sensatas, mas devem tomar a minha palavra como certa. Custa-me até a crer como é que nunca fumei um cigarro após um desses acidentes, para o agravar com o fumo.

Talvez agora à distância de um mês eu já possa avançar que nunca soube fumar, mas quando o tentava fazer na variante sem-mãos, o resultado foi sempre patético. Há um clássico, talvez difícil de explicar, em que depois de alguns segundos um pouco mais longos com o cigarro entre os lábios, o tentava tirar com os dedos. Como o cigarro estava já colado aos meus lábios, os dedos escorregavam pelo tubo, até empurrar a borra do cigarro acesa para a frente, e no processo fazer uma queimadura ligeira. É difícil andar por caminhos mais tristes.

Deixei de fumar e a minha imagem saiu beneficiada disso, não porque o meu cabelo viesse a ter mais brilho ou porque a minha pela rejuvenescesse, coisas que ainda me vão ter que provar muito devagarinho, e de certeza que não terá sido pelo índice de massa corporal, visto que agora os trinta quilos já me parecem uma previsão optimista, mas porque limito os meus gestos a um mínimo, o que não tem como não ser positivo. Ainda não me livrei das malaguetas, mas já tenho avisado pessoas que me vêem a cozinhar que têm autorização expressa para me agredir até à inconsciência se desconfiarem que eu pretendo levar as mãos aos olhos, como parece que não me canso de fazer.