Não cheguei ao fato, mas passei boa parte da semana a praticar um desporto que me destrói a paciência: usar uma camisa por dentro das calças. Não consigo compreender como é que se consegue fazer essa coisa com dignidade. Ou fico com um ar de balão insuflado ou irremediavelmente desfraldado de um dos lados o que, seja como for, me faz sentir muito ridículo.
A desculpa para a farpela melhorada (mas não muito) foi uma conferência internacional decorrida em Lisboa, onde, por razões profissionais me vi obrigado a ouvir um dos piores tipos de discurso que conheço - o dos professores de ciências sociais portugueses. Com raras excepções - e felizmente houve-as na dita conferência - o académico português vai a um evento destes para demonstrar que domina todo o impenetrável jargão da sabedoria científica lusa, para quem a forma é tudo. É inacreditavelmente difícil manter os olhos abertos às duas da tarde, quando ouvimos um professor dizer a outro "gostei muito da sua taxinomia".
Como já demasiadas vezes constatei, os académicos estrangeiros têm uma postura e um discurso completamente diferentes. Falam simples, querem falar simples, percebe-se o que eles querem dizer, têm coisas para dizer.
Não é por eles que invejo os que se levantam a meio da conferência para vir cá fora fumar. Basta-lhes isso para justificar o gesto. Eu tenho de inventar um telefonema imprevisto ou fingir-me ocupado com algum pensamento importante, para tentar disfarçar o facto de que estou aborrecido de morte. E a camisa cada vez mais indomada.
Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com