O que eu queria para este diário era literatura e não um honesto e cumpridor relatório de acontecimentos positivos. Vamos no dia 12 e não houve uma noite desesperada, não houve uma cedência ou fraqueza dignas de duas páginas de um livro mau.
Devia ter mentido desde o primeiro post.
Que quero deixar de fumar há anos mas que não consigo olhar o monstro de frente, que ser engolido assim me consome e me diminui perante mim próprio mas que nunca fui capaz de mexer um dedo para contrariar o vício. Que finalmente teria tentado, em último caso, já doente e incapaz de subir as escadas para o segundo andar onde vivo; que depois de me ver a tossir sangue a minha namorada me fez um ultimato e que só então e pela covardia e medo de viver sozinho, e não por amor, eu teria tentado. E havia de pintar o quadro com histórias mais patetas e voltar a fumar a cada dia do diário. Perder o emprego, ser abandonado pela mulher, fumar cada vez mais post após post.
Ou qualquer coisa menos trágica desde que fosse idiota o suficiente. Qualquer coisa que fosse impossível de ser verdadeira. Podia avançar com a minha biografia e dizer-me jogador profissional de futebol, ou o batman, primeiro-ministro, qualquer coisa.
Já suspeitava que deixar de fumar era uma história aborrecida, mas o que me preocupou a sério foi sentar-me aqui e quase escrever um post sobre o cheiro das coisas e o regresso do olfacto. Para lá disso passo a vida a comer, o resto já sabem. Corre bem.
Devia ter mentido desde o primeiro post.
Que quero deixar de fumar há anos mas que não consigo olhar o monstro de frente, que ser engolido assim me consome e me diminui perante mim próprio mas que nunca fui capaz de mexer um dedo para contrariar o vício. Que finalmente teria tentado, em último caso, já doente e incapaz de subir as escadas para o segundo andar onde vivo; que depois de me ver a tossir sangue a minha namorada me fez um ultimato e que só então e pela covardia e medo de viver sozinho, e não por amor, eu teria tentado. E havia de pintar o quadro com histórias mais patetas e voltar a fumar a cada dia do diário. Perder o emprego, ser abandonado pela mulher, fumar cada vez mais post após post.
Ou qualquer coisa menos trágica desde que fosse idiota o suficiente. Qualquer coisa que fosse impossível de ser verdadeira. Podia avançar com a minha biografia e dizer-me jogador profissional de futebol, ou o batman, primeiro-ministro, qualquer coisa.
Já suspeitava que deixar de fumar era uma história aborrecida, mas o que me preocupou a sério foi sentar-me aqui e quase escrever um post sobre o cheiro das coisas e o regresso do olfacto. Para lá disso passo a vida a comer, o resto já sabem. Corre bem.