O meu estimado amigo Sérgio tem um talento inestimável para a arte da postagem. Leio à distância as suas deambulações por este mundo e o outro a propósito do pequeno rolo que nos une neste blogue e não consigo deixar de aplaudir a capacidade imaginativa.
Ocorre-me, em jeito de inveja e despique, falar das árvores de África, essas coisas asfixiantes que me fazem ficar parado a olhar para as rugas de um tronco (e então esta criatura que vos mostro faz-me agradecer o facto de ainda me pagarem para falar dela).
Mas falta-me o talento para tergiversar - e ainda gostava de saber porque é que as pessoas não usam mais a palavra tergiversar no seu quotidiano. Assumo aqui o papel de reaccionário de serviço à causa deste blogue e voltar a centrá-lo no tema que aqui nos trouxe - o deixar de fumar, essa actividade pérfida que um dia será proibida em todos os países decentes.
Acusar-me-ão, e com razão, de não ser capaz de me afastar do meu próprio umbigo. Concordo e aceito, mas afinal para que é que serve um blogue?
Acontece que o camarada Sérgio quer deixar transparecer a ideia de que fumar é uma coisa simples fácil, com excepção da derrota ideológica que esse acto encerra.
Não é, meus senhores, não é. Desde que me meti nesta estúpida aventura, tenho ouvido os mais variados palpites dos costumeiros treinadores de bancada, especialistas na localização de aeroportos, o défice das contas do Estado, a verdadeira história da pequena Maddie e, claro, na data a partir da qual um gajo se pode considerar livre do tabaco. Uns dizem que o pior é a primeira semana. Outros vêm com os primeiros três meses e até já ouvi uns vomitarem seis meses como o prazo para um tipo deixar de pensar nisto. Cada um dá a sua baforada de parvoíce na minha cara e eu tenho que a aspirar, fingindo indiferença.
Estou a milhas de vós, com mais de um mês de abstinência em cima do corpanzil e à beira de quebrar o meu voto de castidade tabagística a qualquer momento. No grupo com quem viajo, já houve dois ex-fumadores que reincidiram durante a estadia nestas terras. Eu ainda nem percebi porque é que não fiz o mesmo.
Na verdade, jovem incauto que por acaso venhas cá ler isto, deixar de fumar é a coisa mais parva do mundo. Por isso é que nunca deves experimentar. Corres o sério risco de gostar e depois ainda te fodes. Nunca pensei que o valor moral de uma aposta baseada apenas na honra como defesa contra a fraude se sobrepusesse a um compromisso de carácter, assumido por mim há 12 anos como dogma absoluto. Mas é isso que acontece meus caros e não venha para aí o Sérgio dizer que isto é tudo muito simples porque não é, não é, repito não é absolutamente nada simples, nem fácil, nem cool, nem vale uma Casa Branca, e se há por aí alguma espécie de entidade superior a pairar sobre os nossos espíritos, ela sabe bem da filha da putice de sacrifício que esta merda tem sido.