Pela primeira vez a minha quaresma envolve algum tipo de privação, ainda que inadvertida. Deixei de fumar no Domingo de Carnaval, dia 3 de Fevereiro e imaginei que os quarenta dias de Cristo no deserto ou os quarenta de Noé na Arca fossem brincadeiras comparados com os quarenta que me esperavam. Népia, como já está toda a gente farta de saber. Acho que já corri quase todos os antigos lugares onde fumar era inevitável e nenhum deles me enfrentou com a dignidade que lhes confiava. Já os listei todos, uns desilusões maiores que outros mas nenhum à altura.
Acho que fiquei sem sistema nervoso central a julgar pela calma com que vejo futebol, mesmo sendo verdade que ainda não houve nada que me testasse devidamente: sou um tipo do Benfica; há anos que não acontece nada de bom nem de mau. Esperar pelo autocarro é uma brincadeira, sobretudo agora (eu não usava transportes públicos desde 2000) que cada paragem tem um serviço espantoso que diz aos utentes quanto tempo falta para o próximo autocarro. Não há nenhuma possibilidade de incerteza na vida de um utilizador da Carris, até mete nojo. Aliás, eu não vejo as pessoas a elogiar suficientemente o que se passa com a Carris e os seus confortáveis autocarros que chegam a horas. Bem sei que o eixo em que me desloco é privilegiado (embora não tenha Metro), mas ainda assim acho que toda a instituição está de parabéns. Cafés, refeições, nada. Já cheguei a aperceber-me de me ter esquecido, após um jantar, da vontade de fumar. Estar a uma mesa de um bar não me desperta nenhuma ansiedade incontrolável. Só uma ligeirinha distracção de tempos a tempos é que me leva a esquecer que já não fumo, mas até isso passa logo. As pausas do trabalho, outrora tão valiosas, deixaram de fazer sentido. Este - vá lá - foi o hábito mais difícil e lembro-me bem da quarta-feira da primeira semana de trabalho, o único dia em que roí unhas, pensei segundo após segundo em fumar, comi oito barras de chocolate, fatias de salame em catadupa, todas as empadas e rissóis do bar, almocei duas vezes. Um dia assim tão precioso durou só isso. A minha expectativa de intensa e literária angústia pela abstinência durou aquele dia. Sou a última pessoa que devia escrever um blogue destes. Não há nada para contar, a não ser essa quarta, que já nem lembro bem.
Riscados quarenta dias pelo calendário canónico esta é a altura ideal para fechar o blogue com alguma dignidade. Faltam-me duas ou três provas que nunca aconteceram, mas depois desisto: umas férias, um Campeonato de Futebol a sério e um dia realmente mau no trabalho, seriam três óptimos testes. A ver vamos.
Acho que fiquei sem sistema nervoso central a julgar pela calma com que vejo futebol, mesmo sendo verdade que ainda não houve nada que me testasse devidamente: sou um tipo do Benfica; há anos que não acontece nada de bom nem de mau. Esperar pelo autocarro é uma brincadeira, sobretudo agora (eu não usava transportes públicos desde 2000) que cada paragem tem um serviço espantoso que diz aos utentes quanto tempo falta para o próximo autocarro. Não há nenhuma possibilidade de incerteza na vida de um utilizador da Carris, até mete nojo. Aliás, eu não vejo as pessoas a elogiar suficientemente o que se passa com a Carris e os seus confortáveis autocarros que chegam a horas. Bem sei que o eixo em que me desloco é privilegiado (embora não tenha Metro), mas ainda assim acho que toda a instituição está de parabéns. Cafés, refeições, nada. Já cheguei a aperceber-me de me ter esquecido, após um jantar, da vontade de fumar. Estar a uma mesa de um bar não me desperta nenhuma ansiedade incontrolável. Só uma ligeirinha distracção de tempos a tempos é que me leva a esquecer que já não fumo, mas até isso passa logo. As pausas do trabalho, outrora tão valiosas, deixaram de fazer sentido. Este - vá lá - foi o hábito mais difícil e lembro-me bem da quarta-feira da primeira semana de trabalho, o único dia em que roí unhas, pensei segundo após segundo em fumar, comi oito barras de chocolate, fatias de salame em catadupa, todas as empadas e rissóis do bar, almocei duas vezes. Um dia assim tão precioso durou só isso. A minha expectativa de intensa e literária angústia pela abstinência durou aquele dia. Sou a última pessoa que devia escrever um blogue destes. Não há nada para contar, a não ser essa quarta, que já nem lembro bem.
Riscados quarenta dias pelo calendário canónico esta é a altura ideal para fechar o blogue com alguma dignidade. Faltam-me duas ou três provas que nunca aconteceram, mas depois desisto: umas férias, um Campeonato de Futebol a sério e um dia realmente mau no trabalho, seriam três óptimos testes. A ver vamos.