Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com

quarta-feira, 19 de março de 2008

ISO 9001

O último cigarro que fumei teve uma característica curiosa: foi igual ao primeiro que por sua vez foi tal e qual todos os outros milhares que apareceram entretanto. Podem discordar de mim e dizer que não, e que escolhiam cuidadosamente a vossa marca e eu não vou discutir essas coisas. Acho que essa fidelidade pouco tem a ver com paladares, mas sou eu que penso assim. Acreditem porém, amiguinhos fumadores, que é a estandartização que fez do cigarro o campeão de vendas que todos respeitam. Uma grande parte do prazer antecipado de fumar um cigarro vem da segurança inabalável de saber o que vai acontecer a seguir. Não há a ínfima possibilidade de desvio, e se houvesse, ou melhor, se se concretizasse, seria um horrível cigarro (entre brincadeiras de carnaval e cigarros de mentol fumados inadvertidamente, não me lembro de uma única boa surpresa).

Eu gosto de ser surpreendido como toda a gente, não entendam isto mal. Por isso fumava às vezes um charuto, e deliciava-me com a novidade, mas ninguém quer distracções externas quando se espera um autocarro, quando se vê os ultimos cinco minutos de um jogo, quando se está na cama, depois, quando se está prestes a entrar numa entrevista de emprego. Em todos estes momentos um gajo não quer mais que rotina e previsibilidade. Um cigarro compincha, como quem pede uma cerveja em vez de vinho ou quem acompanha com esparguete em vez de arroz. Há muitos momentos do dia em que é só isto que é preciso.