Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com

domingo, 20 de abril de 2008

The blue moods of Spain


Já voltei há nove dias, mas o espírito ainda não regressou completamente. A semana que passei na pátria dos caramelos tornou ainda mais difícil a já de si árdua tarefa de dizer mal de Espanha e dos espanhóis. Esta coisa de olhar para a fronteira com desconfiança e desdém está-nos no sangue. Mais, fomos educados para detestar os espanhóis, esses cobiçosos arruaceiros que sempre nos quiseram anexar. É pena que os mitos caiam assim, porque os mitos dão trabalho a criar e mais ainda a manter e a passar de geração em geração.

Os espanhóis meus caros, sabem viver bem melhor do que nós. Sabem acordar mais tarde, sabem dormir a siesta, sabem sair à noite todos os dias, sabem aproveitar ao máximo as horas úteis do dia. Sabem que petiscar em vez de jantar é uma coisa bem divertida. Sabem fazer dos fumados e enchidos uma presença constante na vida do indivíduo, em vez de ser um luxo ocasional.

E sabem outra coisa não menos importante. Os espanhóis perceberam há muito que as regras que Bruxelas quer impor a todo o continente só são boas para serem aplicadas até aos Pirinéus. Fizeram uma lei do tabaco que deixou a cada estabelecimento decidir se o fumo entra ou fica à porta. O resultado, mau ou bom, não me vou pôr a discutir isso aqui e agora, é que se fuma em 90 por cento dos bares e cafés. Quando muito, há uns audaciosos que criaram zonas de separação, mas sem divisórias nem as 505 mil regras que o nosso Governo inventou para tornar absolutamente incompreensível o modo de funcionamento de um bar com áreas para fumadores e não fumadores.

Apesar de ter abandonado a causa, gostei de ver os meus amigos fumadores a beber e fumar em simultâneo outra vez. Pode-se manter uma conversa à mesa sem ter de se ir lá fora apanhar chuva e frio. Há pequenas coisas cujo valor só nos apercebemos quando as perdemos. Ah, e os gajos ainda usam orgulhosamente essa coisa perigosíssima que é o galheteiro. Aqui os “bons alunos” lamentam-se. Os gajos divertem-se.