Estranhamente depois da cigarrilha tudo ficou mais calmo. Houve algum receio enquanto a fumava, posso confessar agora. Quando engoli a minha primeira pastilha elástica aconteceu-me o mesmo e nem contei aos meus pais por medo, eles que sempre tiveram o bom-senso de me afastar daquele meu primeiro alcatrão. Concluí que ia morrer em poucas horas e perguntei desesperado a um amigo mais velho se havia ainda algo a fazer naquela situação-limite da minha vida. O gajo riu-se e contou-me que já tinha engolido mais de uma dezena e que não acontecia rigorosamente nada. Achei isto um bocado irresponsável de se dizer a um miúdo e, pelo sim pelo não, não voltei a fazer o mesmo (bom, aqui há atrasado - coisa de semanas - aconteceu-me comprar aqueles melõezinhos verdes numa loja de gomas e engoli propositadamente uns oito ou nove antes de me aperceber, com um dos últimos que quis que durasse mais, que aquilo nunca mais se desfazia e que talvez fosse por estar a mastigar pastilha elástica. Alguém sabe se são realmente?). Importante nisto é a irresponsabilidade do outro que me disse que não fazia mal, ruindade em que talvez eu próprio caia por vezes aqui. Quando fumei a cigarrilha pensei que se calhar era tudo verdade e que o vício ia regressar em força no momento exacto em que puxasse a primeira baforada e afinal é este sossego passados estes dias. Portanto, caros, um bocadinho de pedagogia: deixar de fumar é bem fácil, aqui e ali é divertido, e num instante vai parecer que nunca pegaram num cigarro. Mas convém lidar com papão do vício como quem lida com o mar ou a trovoada. Sem medos mas com respeitinho.
Um blogue na sua segunda época e agora sem objectivos materialistas e apostas por resolver. Pancadinhas no ombro, sentimentos de desilusão e mágoa e bilhetes para o próximo jogo do Sporting podem ser enviados para adeuscianeto@gmail.com